À primeira vista, parece um ritual de pobreza. O ônibus estaciona na lanchonete da Sula, a 90 km de Humaitá (AM), e logo mulheres e crianças pirahãs, descalças e em roupas puídas, se aglomeram em torno dos passageiros. Quando têm sorte, saem carregadas com sacos de salgadinho e garrafas de refrigerante.
Mas basta seguir o grupo até o acampamento à beira do rio Maici para entrar em um mundo à parte da rodovia. Sobre a canoa esculpida num tronco único, repousam arco e flecha. Dentro da água transparente, uma Bíblia aberta é folheada lentamente pela correnteza.
No fogo aceso no chão arenoso, peixes cozidos inteiros e sem tempero. As moradias se resumem a um teto de palha sustentado por paus, e abrigam bichos de estimação como macaco e gambá.
Mas o que mais impressiona é ninguém falar português, apesar de três séculos desde o primeiro contato com o branco. A única língua ali é a melódica pirahã, que não guarda parentesco com nenhum outro idioma vivo do planeta, só é falada no tempo presente e não inclui números nem cores.