EAS - Evento Fúria - 2033

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A Manta ao Amanhecer

Começou em uma Terça-feira, acordamos com uma gritaria logo em frente ao nosso portão. Eram duas da madrugada, com o sono e a confusão que esse tempo trás junto ao medo e a adrenalina de que algo estranho havia quebrado a rotina. Nos reunimos nós quatro, eu, minha irmã e meus pais para ver o que estava acontecendo pela câmera do interfone — uns quatro rapazes espancando um quinto no chão. Era uma briga de bêbados, ou usuários de drogas — só poderia ser.

Os xingamentos não davam sequer um contexto da cena, eram soltos aos gritos e aos chutes, inclusive ao portão de ferro. Tratei de chamar a polícia pelo telefone, que depois de duas tentativas finalmente atenderia; uma viatura estaria a caminho. No final, nenhuma viatura apareceu, e até checarmos a câmera novamente já não havia ninguém na frente de casa, nem mesmo a vítima. Tentamos voltar à cama, mas a insegurança do que houve sequestrava nosso sono.

Eram quatro da manhã quando de uma cochilada e outra percebi os barulhos lá fora: gritos, xingamentos, buzinas… Era muito cedo para ter tanta gente nas ruas do bairro. Abri a porta da sala, caminhei até o portão e espiei pela fresta em direção à esquina. Alguns ficavam parados, como se tivessem acabado de acordar, outros sentavam no chão como alguém em choque, alguém abandonou um Jeep com a porta aberta e o motor ligado. Não fazia muito sentido, as cenas iam e vinham em ondas, interrompidas por períodos de silêncio de qualquer outro dia naquele mesmo horário.

Eram seis da manhã quando piorou. Desconhecidos batiam em nosso portão, lembro-me bem desse senhor barbudo, provavelmente um avô de alguém; dei as ordens para parar aos berros, mas tudo o que respondia era algo sobre um forno que alguém deixou ligado, repetindo suas próprias falas como um disco riscado. O que antes imaginávamos ser briga de gangues, ou conflito entre facções do tráfico, passou a ser cada vez mais difícil de explicar. O mercado da esquina já estava aberto às sete da manhã, mas a clientela de sempre agora saqueava o lugar enquanto os funcionários trabalhavam em calma.

Já podíamos ver um ou outro cadáver pela rua, esfaqueado ou espancado até o fim, e gritos de vizinhos ao terem suas casas invadidas ao ignorantemente abrir o portão para entender o que estava acontecendo nos colocava ainda mais em pânico. Uma adolescente sentou-se em frente ao nosso muro, vestindo o uniforme de uma escola próxima; em silêncio na maior parte do tempo, algumas frases saíam com tanta naturalidade de seus lábios de tempos em tempos, como se a garota estivesse em sua cozinha conversando com sua mãe antes de um dia de escola, completamente ignorante do cenário e da situação em que realmente estava.

Nos trancamos em casa, certificando-se de que não fizéssemos barulho, talvez assim eles pensariam que não haveria ninguém. Na TV, descobrimos que não era apenas aqui, mas no país inteiro — não importava se vila ou metrópole, nenhum lugar era seguro. Qualquer pessoa lá fora, não importasse o quão normal agisse ou falasse, como saber que era um deles? Nem mesmo quando a aura da manhã deixou a rua e as chuvas da tarde caíram, as cenas de barbárie e insanidade continuariam até que poucos restassem vivos. Criança contra adulto, filha contra pai; fossem aos punhos, às facas ou armas de fogo, a festa da Morte seguia a todo vapor, pois o mundo já não era o nosso. A insanidade se deitava pela Terra como uma coberta, para que todos pudéssemos dormir.

G.C. Wozniak

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